Ex-diretor da Petrobras chamava grupo que pagava propina de 'club

Edição do dia 15/11/2014
15/11/2014 21h16 - Atualizado em 15/11/2014 21h22

Ex-diretor da Petrobras chamava grupo que pagava propina de 'clube'

Documentos revelam que Renato Duque recebeu até R$ 60 milhões.
Empreiteiras que participavam do esquema eram chamadas de 'clube'.

Documentos obtidos pelo Jornal Nacional revelam que um executivo disse a procuradores que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque recebeu até R$ 60 milhões de propina. 
Segundo esse depoimento, Duque chamava de “clube” o grupo de construtoras envolvidas no esquema de corrupção.
Os depoimentos ao Ministério Público Federal revelaram que Renato Duque, que mora em um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, movimentou uma fortuna em propina.

Segundo o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, Duque foi indicado pelo PT para a diretoria da área de Serviços e Engenharia da empresa, cargo que ocupou de 2003 a 2012, nos governos Lula e Dilma

Augusto Mendonça Neto, executivo da Toyo Setal Empreendimentos, revelou ao Ministério Público que Duque usava a palavra "clube" para falar das empreiteiras que participavam do esquema de corrupção.

Segundo o empresário, Duque exigia que a propina do "clube" fosse paga a ele.

Augusto Mendonça disse que negociou diretamente com o ex-diretor da Petrobras o pagamento de suborno de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões.

Júlio Camargo, outro executivo da Toyo Setal, revelou que o dinheiro da propina "era pago a maioria no exterior e em parte em reais no Brasil".

Augusto Mendonça também detalhou as "duras negociações" sobre o valor das propinas que teve com Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, que hoje cumpre prisão domiciliar.

A regra, segundo o executivo, era: "Ou pagava ou a consequência era grande".

As prisões desta sexta-feira e desse sábado (15) fazem parte da 7ª etapa da Operação Lava Jato, que começou em março deste ano.

Justiça, Ministério Público e Polícia Federal reuniram uma força-tarefa para desarticular um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e acabou chegando aos desvios de verbas da Petrobras.

Entre os 24 presos na primeira etapa, em março, estão o doleiro Alberto Youssef, que, segundo a investigação, lavou até R$ 10 bilhões, e Paulo Roberto Costa.

Youssef e Costa assinaram acordos de delação premiada, que permanecem sob sigilo. Mas em depoimentos à Justiça, que são públicos, revelaram como funcionava o esquema.

Diretores de áreas estratégicas eram escolhidos pela ligação que tinham com políticos e partidos. A de Abastecimento era da cota do PP; a Internacional, do PMDB; e as de Exploração e Produção de Serviços e de Gás e Energia eram da cota do PT. Cada um desses partidos, segundo as denúncias, tinha um operador, que os representava nas negociações. No PT, João Vaccari; no PMDB, Fernando Soares; e no PP, primeiro o ex-deputado José Janene, que morreu em 2010, e depois Alberto Youssef.

Esses partidos, aliados do governo, exigiam que os diretores e o doleiro cobrassem propina de empreiteiras. Em troca, essas empresas conseguiam contratos na Petrobras. O dinheiro do suborno saía dos cofres das empreiteiras, que cobravam preços mais altos pelas obras para incluir a parte da propina.

Os 23 presos de sexta e sábado são:

Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. Da empreiteira OAS, o presidente José Aldemário Pinheiro Filho, além do vice-presidente do conselho Mateus Coutinho de Sá Oliveira, o diretor Agenor Franklin Magalhães Medeiros, o advogado Alexandre Portela Barbosa (advogado) e o funcionário José Ricardo Nogueira Breghirolli.

Da Engevix, foram presos o vice-presidente Gerson de Mello Almada e os diretores Carlos Eduardo Strauch Albero e Newton Prado Junior.

Da Queiroz Galvão, foram presos o diretor da Vital Engenharia Othon Zanoide de Morais Filho e o ex-diretor Ildefonso Colares Filho.
Da UTC, o presidente Ricardo Ribeiro Pessoa, que segundo as investigações coordenava o chamado “clube” de empresas que pagavam propina; Ednaldo Alves da Silva e o diretor Walmir Pinheiro Santana.

Da Iesa, foram presos o diretor-presidente Valdir Lima Carreiro e o diretor Otto Garrido.

Da Galvão Engenharia, o diretor-presidente Erton Medeiros Fonseca. Da Mendes Junior, o vice-presidente Sérgio Cunha Mendes.

Da Camargo Corrêa, foram presos o presidente Dalton Avancini, o vice-presidente Eduardo Ermelino Leite e o presidente do conselho João Ricardo Auler.

Também estão presos Carlos Alberto da Costa Silva e Jayme Alves de Oliveira Filho, policial federal ligado ao doleiro Alberto Youssef. Tinha como uma das funções entregar dinheiro da propina, segundo as investigações.

A polícia ainda procura por Adarico Negromonte Filho e o lobista Fernando Soares.

Em depoimento do Ministério Público, Júlio Camargo, da Toyo Setal, disse que concordou em pagar propina de US$ 15 milhões ao lobista Fernando Soares para a Petrobras fechar a compra de uma sonda.

Nove pessoas foram conduzidas à delegacia para prestar depoimentos por determinação da Justiça. Entre elas, Marice Correa, filiada ao PT de São Paulo e cunhada do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

Na decisão em que autoriza as prisões, o juiz Sérgio Moro afirma "que os crimes narrados na representação policial estenderam-se por período considerável de tempo, com pagamentos que datam de 2006 até  2014", dias antes das primeiras prisões da Operação Lava Jato, feitas em março. As empreiteiras investigadas assinaram contratos com a Petrobras no valor total de R$ 59 bilhões. E ainda hoje mantém contratos que somam mais de R$ 4,2 bilhões.

O juiz Sérgio Moro determinou o bloqueio de R$ 720 milhões em bens de 36 pessoas acusadas de participação no esquema de corrupção.

A Camargo Corrêa reafirmou que repudia as ações da Operação Lava Jato porque, desde o início, tem colaborado com as investigações.
A Odebrecht, a Mendes Júnior, a OAS, a Engevix, a UTC, a Galvão Engenharia, e a Queiroz Galvão também declararam que estão colaborando com as autoridades.
A Iesa não quis se manifestar.
O Partido dos Trabalhadores tem afirmado que o secretário-nacional de Finanças João Vaccari Neto repudia veementemente as acusações e que as doações recebidas pelo PT são realizadas legalmente.
O PMDB declarou que repudia de forma categórica as acusações de envolvimento em desvios na Petrobras. O partido afirma que defende a ampla investigação de todos os fatos e que obteve legalmente os recursos para financiar suas campanhas.
O Partido Progressista declarou que não tem conhecimento oficial do teor dos depoimentos, mas que está à disposição para colaborar com as apurações.
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