A CÂMARA E O POVO! QUE POVO? JOSE AUGUSTO LONGO.

 
Algumas pessoas se admiraram da atitude da nossa veneranda Câmara de vereadores em desconhecer as mais de quatro mil assinaturas, com número de título eleitoral e tudo, que reivindicava a volta do nome original de uma avenida no centro da cidade, mudado depois de quase cem anos, por mero capricho de um dos seus membros. Pessoas honradas; igreja, clubes de serviço, maçonaria, políticos de expressão, empresários, funcionários públicos, estudantes, profissionais liberais, enfim, toda a camada da sociedade representada num imenso abaixo assinado que se converteu em nosso 1º Projeto de Iniciativa Popular.
Desde algum tempo, a nossa respeitável Câmara vem desempenhando papel pouco representativo, no que tange à resolução dos problemas que assolam nosso Município. Em quase todas as reuniões – são duas por semana – o que se testemunha são debates vazios,  ocos, sem que haja, em sua grande maioria, a discussão de assuntos que interessem diretamente à população. Dos nossos treze representantes legitimamente eleitos, inclusive pelos eleitores que assinaram a proposição rejeitada, noventa por cento estão na situação e os que sobram  e que se dizem oposição, são doidos para fechar a conta, fazendo crer que são contrários, mantendo-se sempre com um ”olho no peixe e outro no gato”.
Na verdade, nada impede e não há mal algum em se ser situação ou oposição. Vereador que se presa só tem um lado a quem deve servir sem pestanejar: o lado da população. Quanto a estar lá ou cá, pouco importa.
O que não deve, e isso infelizmente ocorre com frequência, é que por serem da chamada situação, os nossos honrados representantes aprovam sem a mínima discussão, qualquer projeto que parta do Executivo, inclusive alguns que dão enormes prejuízos ao patrimônio público, a exemplo da doação daquele terreno às margens da Alça Sudeste, contemplando forasteiros que prometeram a construção de um tal empreendimento que empregaria mais de mil pessoas, e que até agora, nada foi feito. E o pior é que nunca foi revelado o porquê da pressa na aprovação daquele projeto, nem muito menos a quem interessava tal urgência.
No episódio da troca de nomes de rua, o que prevaleceu para a postura dos edís, foi o corporativismo. Foi o desejo confirmado de provar à sociedade, que lá naquela respeitável e veneranda Casa, quem mandam são eles, os mais que respeitáveis vereadores. O que se ouviu foi um recado direto dado ao eleitor, para mostrar que depois de eleitos são eles, e somente eles, que têm vez e voz, que são independentes para tomar toda e qualquer decisão, desde que não sejam maculados na sua ilimitada e soberana autoridade. Disseram diretamente aos eleitores que assinaram a propositura, ali representando significativa parcela da população, que com eles é “cada qual no seu quadrado”. Foram enfáticos em afirmar que eleitor só serve mesmo pra votar e olhe que se não for votar neles a Justiça multa! Disseram, sem rodeios, que  se lá estão colocados por nós, que aguentemos as consequências pelo ato impensado de elege-los. Deixaram explícito, que ninguém pode meter o bedelho em suas deliberações, mesmo que esse “ninguém” seja representado por mais de quatro mil “ninguéns”.
A nossa Câmara, para a decepção de alguns, menos pra mim, escancarou aos quatro cantos do Município o que de fato ela representa, a quem ela representa, para quem e por quem ela trabalha.
Se pararmos pra pensar, chegaremos a decepcionante conclusão, de que os nosso vereadores, aqueles que votaram contra o Projeto de Iniciativa Popular, com  mais de quatro mil assinaturas, estão cobertos de razão. Ora, devem pensar: se estamos aqui e por quatro anos seremos intocáveis, é por culpa, exclusiva dos eleitores que nos escolheram em eleição livre e democrática. O que pensam, mas não declaram, é que meios usaram pra chegar lá. Se por dinheiro, pela garupa de alguma liderança ou pela promessa de favores. Pelo carisma ou pela beleza dos olhos, tenho certeza, nenhum seria eleito.
O episódio da votação que derrubou a primeiro Projeto de Iniciativa Popular da nossa história legislativa, marcará, para sempre a atual Câmara. Não pelo pouco que produziram até hoje os senhores vereadores, mas, isto sim, pela cuspidela que deram na cara do povo. O projeto não propunha nada de fenomenal ou de anormal. O povo não estava pedindo uma indignidade aos éticos e corretos vereadores, nada que pudesse manchar a honra ou a história de nenhum deles. O que se propunha, simplesmente, era a revogação de uma Lei que, impensadamente por parte do seu autor e com a conivência do Plenário, mudou a denominação de uma Rua que há quase cem anos chamava-se Vidal de Negreiros, enterrando, pra sempre uma tradição que se perpetuava. Nada mais do que isso, apenas isso. Revogar uma lei é ato corriqueiro em qualquer parlamento do mundo. O ato de revogar uma lei, não desmerece o seu autor e muito menos apequena a Casa como um todo.
E o mais engraçado é que nenhum argumento apresentado pelos que votaram contra o Projeto convence ao mais desatento dos eleitores. A  maioria nem sabe ainda quem foi Vidal de Negreiros. Não sabem eles que o antigo homenageado, segundo dados do jornalista e escritor  Mizael Nóbrega, nasceu em 1620, no Engenho São João, na província de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual cidade de João Pessoa; foi militar, líder na expulsão dos holandeses da Capitania de Pernambuco. Foi Governador das Capitanias de Pernambuco, Maranhão e do Grão-Pará. Foi também Capitão-Geral de Angola. Morreu em 1680.
Pois bem, o nome que retiraram da Rua foi apenas isso que está escrito acima. Não foi apenas um  comerciante, com todo o respeito que os comerciantes nos merecem.
Houve uma engraçada alegação de que Vidal de Negreiros era um ilustre desconhecido, um forasteiro.  Que coisa, hein? Será que o nome que a Câmara confirmou em substituição ao do “forasteiro” Vidal de Negreiros era patoense? Se a alegação de fato procedesse, o próprio autor do projeto de mudança não poderia ser vereador em Patos.  E perguntar não ofende: será que nominar uma rua com pessoas que não nasceram aqui é mais grave do que se eleger um “forasteiro”, que não conhece a nossa história e que para aqui veio com o intuito inicial de ganhar a vida, somente depois derivando para a política, como muitos casos existentes nos anais da Casa de Juvenal Lúcio de Sousa?
Que bobagem! Quantas e quantas pessoas que não nasceram nas Espinharas aqui aportaram e ajudaram a construir o nosso progresso!
O que a nossa Câmara precisa e com urgência, é dar nome às mais de quatrocentas ruas ainda sem denominação e esquecer de trocar os nomes já existentes, muitos deles, como o da agora quase centenária ex-Vidal de Negreiros.
Quanto ao povo...que povo, ora bolas! Povo só serve pra eleger. Depois quem manda é o vereador, isso até que  o povo, um dia, se valorize e eleja apenas os que lhe preste satisfações.

José Augusto Longo

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